OS SANGRADOUROS DO LITORAL DE SANTA CATARINA, BRASIL

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Mariana Veras de Alencar Zorzo

Resumo

Os sangradouros são cursos d'água responsáveis por escoar a água acumulada à retaguarda das dunas frontais, cujo nome tem relação com a coloração de suas águas como se fosse uma sangria. Eles modificam a paisagem com um recorte das dunas, adicionando à praia um curso de água raso e, geralmente, com baixas velocidades de suas correntes fluviais. Em Santa Catarina, é possível encontrar esses cursos d’água ao longo de todo litoral nos 27 municípios costeiros litorâneos que se estendem por 696km de linha de costa, caracterizado pela presença de praias com estágio morfodinâmico dissipativo, intermediário e refletivo; morfologias de praias retilíneas, parabólicas, de bolso e de esporão, além de sedimentos com tamanho granulométrico dominante de areia fina, areia média e areia grossa. Com isso, o principal objetivo do presente trabalho foi quantificar e qualificar, com base no “Atlas geológico-oceanográfico das praias arenosas oceânicas de Santa Catarina, Brasil (APASC)”, todos os sangradouros ocorrentes nas 260 praias oceânicas dos setores Sul, Centro-sul, Central, Norte e Centro-norte de Santa Catarina em dois períodos distintos, o primeiro, relacionado à estação mais úmida com maior precipitação pluviométrica e o segundo, relativo à estação mais seca com menor precipitação pluviométrica. A metodologia foi desenvolvida em gabinete em três etapas: levantamento bibliográfico e análise de dados disponibilizados no APASC, levantamento dos sangradouros e elaboração dos mapas e, por último, síntese dos dados, produção textual e publicação dos resultados. Para a etapa de geoprocessamento e elaboração dos mapas utilizou-se os softwares Google Earth e QGIS, respectivamente. Foram mapeados 514 sangradouros no litoral de Santa Catarina, 281 (55%) encontrados durante o período chuvoso (meses de janeiro, fevereiro, março, abril, outubro, novembro e dezembro) e 233 (45%) durante o período não chuvoso (meses de maio, junho, julho, agosto e setembro). O maior número de sangradouros foi identificado no setor Sul (185; 36%), seguido dos setores Centro-sul (108; 21%), Central (107; 20%), Centro-norte (82; 16%) e Norte (32; 7%). As principais variáveis identificadas e relacionadas à quantidade dos sangradouros na costa catarinense foram: aporte pluviométrico, sistema deposicional, presença de dunas, morfologia e morfodinâmica das praias, granulometria, porosidade e urbanização costeira. Constatou-se que os meses com maior aporte pluviométrico e praias mais urbanizadas apresentaram maior ocorrência de sangradouros. A granulometria e a porosidade do sedimento do setor do pós-praia também se revelaram importantes para a presença dos sangradouros, uma vez que praias arenosas finas de baixa porosidade concentraram maior número de sangradouros quando relacionadas às praias arenosas grossas de alta porosidade. Em algumas praias com granulometria areia grossa, localizadas nos setores Central e Centro-norte, foram encontrados sangradouros, fato que pode estar relacionado a uma precipitação pluviométrica acima do comum e às modificações antrópicas da paisagem natural. O número de sangradouros é maior nas praias retilíneas e dissipativas adjacentes ao sistema deposicional laguna-barreira com campo de dunas bem definido à retaguarda, bem como em praias com nítida urbanização de seu litoral, onde o acúmulo e escoamento dos cursos fluviais da planície costeira em direção à antepraia são favorecidos.

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